Desejos, celebrações, homenagens e sentimentos sobem aos céus por breves momentos.
Sobem como os balões e como os balões podem viajar quilómetros até a magia se apagar. Sim é bonito, não vamos negar, mas e depois? Mas se são “biodegradáveis” não há problema, certo?
Entrelaçados, o filme da Disney que veio dar uma nova magia e uma nova “luz” às Lanternas do Céu, bem como um aumento da sua procura e utilização. Mas, a sua história e origem remontam tempos bem mais antigos, como veremos.
Mas o que são as Lanternas do Céu, qual a sua origem e significado?
De que são feitas? E depois de a magia se apagar onde vão cair os seus restos?
Terão algum impacto nos seres vivos e no ambiente? Será que matam como Balões? Existem relatos?
Responder a estas perguntas, que acabaram por levar a outras, foi na verdade uma aventura, não vamos negar, mas uma aventura que teve como único propósito: partilhar convosco.
Mas para os que não vão conseguir ler até ao fim, apenas este pensamento:
Imagine que o seu vizinho está em grande festa com amigos. No final, os seus convidados resolvem atirar para a sua horta e quintal, onde seus animais andam livremente, os restos das limas das caipirinhas, os ossos da churascada, as garrafas de vinho e os pratos descartáveis.
Óbvio que não vai achar piada, nem tão pouco vai argumentar: ainda se fossem só as limas e os ossos que são biodegradáveis, mas também o vidro e plástico? Não deixa de ser lixo, não é mesmo? E se o seu gatinho comer um grande osso, ou pior, com um pequeno vidro partido?
Agora outra história: O Planeta é o nosso Anfitreão, e nós somos todos convidados a habitar este planeta em festa de vida, cor e magia, a partilhar com outros seres, plantas, flores, árvores, e lindos animais que nos apaixonam e nos ensinam a amar. Celebramos a vida, a amizade, o amor em mil e um eventos.
Depois usamos recursos naturais para produzir artefactos que voam pelo céu, para usar por breves momentos, e que acabam por ser lixo perigoso fora de um contentor. Uns são biodegradáveis, outros não, os lançamos por tudo, por nada, e sem pensar onde eles vão cair, nem tão pouco nas consequências que podem ter em outras vidas. Que tipo de convidados somos nós quando só pensamos em satisfazer os nossos desejos e prazeres, menosprezando e esquecendo o nosso Anfitreão que nos oferece a sua casa como a nossa Casa?
O que são as Lanternas do Céu, qual a sua origem e significado
Lanternas do Céu, voadoras, dos desejos, Sky Lanterns, mas comumente designadas de Lanternas Chinesas, uma vez que são originárias da China. Mas nem todas são lançadas ao ar.
Festival da Lanternas – Tradição Chinesa. Este é comemorado no dia 15 do primeiro mês do calendário Lunar, sendo considerado o último dia das celebrações do Ano Novo Chinês. Vários costumes e atividades tradicionais são realizadas durante o festival das lanternas: apreciar lanternas estáticas que decoram as ruas, fogos de artifício, adivinhar enigmas lanterna, danças folclóricas, e comer Yuanxiao, e terminam com o lançar lanternas ao céu.
Segundo a história, a origem do festival vem da dinastia Han(206 a.c. -220 d.p.), em que o Budismo prosperou na China. O imperador Ming, defensor do Budismo, percebeu que alguns monges acendiam lanternas nos templos no 15° dia do primeiro mês lunar para venerar Buddha. Então ele ordenou que todos os templos e as casas deveriam ter lanternas acesas nesse dia.
Desde então, a tradição das lanternas foi se espalhando para outros países asiáticos como Japão, Taiwan, Coreia, entre outros, especialmente devido à propagação do budismo. No ocidente, as lanternas também são muito apreciadas e incluídas em decorações orientais.
No vídeo que se segue deixamos apenas um exemplo. Neste Festival em Pingxi, no norte de Taiwan, mais de 5000 lanternas foram enviadas para o céu em homenagem a Buddha.
Mas, o festival das Lanternas já corre pelo mundo, não só em homenagem a Budha. Por exemplo, nos Estados Unidos existe já uma entidade organizadora de Festivais para iluminar o espirito humano.
Temos, ainda, outros exemplos da utilização dessas lanternas em outros contextos festivos, para celebrar o dia dos namorados, casamentos, baptizados, aniversários, a moda está a pegar:
De que são feitas, e onde vão cair os restos?
Ao longo da sua utilização o fabrico das lanternas tem vindo a ser alterado para serem consideradas “amigas do ambiente”.
São feitas essencialmente de papel que cobre uma estrutura de metal ou bambú, recebendo neste último caso o “Eco-rótulo”, e um líquido inflamável, que com a sua chama torna possível um vôo sem controle dos que as lançam.
Uma vez lançadas, podem viajar quilómetros do local de partida e atingir alturas variáveis entre 1000 a 3000 metros, o que depende de vários factores: da própria lanterna, do local onde são lançadas, do ar, do vento, de algum obstáculo que possam encontrar na sua viagem.
E onde termina essa viagem? Pois, isso ninguém pode prever na verdade. Para estas lanternas não existe uma torre de controlo especializada, que possa definir o local exacto da sua aterragem, nem tão pouco garantir que esta seja segura e sem acidentes no antes, durante e depois. Embora já existe de facto um Código de segurança e regras para o lançamento destas lanternas no Reino Unido.
Assim que a chama começa a enfraquecer, elas começam a descer. Podem cair em terra ou no mar, mas também podem encontrar obstáculos e não chegar a aterrar em lado nenhum. E depois o que acontece?
Lanternas no Mundo
Na verdade, as lanternas do céu, dos desejos, dos pedidos e das homenagens facilmente conquistaram o mundo com o seu encanto e magia, e em muitos lugares do mundo, passaram a ser usadas nos mais variados eventos, desde casamentos, aniversários, festas familiares, encerramento de festas locais em substituição do fogo-de-artificio. De facto neste último caso alguns animais domésticos agradecem, mas será que todos os animais agradecem?
Em Portugal já são igualmente usadas, nomeadamente em casamentos em que os convidados escrevem desejos para os noivos nas lanternas antes de as lançarem ao céu, mas também em outras celebrações e eventos. Melhor que lançar borboletas ou os tradicionais balões , verdade.
No mundo viraram “moda”! Tal como os balões ainda são moda em alguns lugares, enquanto noutros “largadas de balões” foram já proibidas! E as Lanternas do Céu são proibidas? Em alguns lugares sim.
Em Portugal, esperamos pela lei que proíbe a largada de balões, e ainda em 2017. Mas e depois?
Será que, uma vez em prática a proibição dos balões, o lançamento das lanternas do céu vai proliferar e virar “epedemia”, por aparentemente parecerem “mais amigas do ambiente” e por serem biodegradáveis? Esperemos bem que não!
Alguns relatos do seu impacto no ambiente e no seres vivos
Vários relatos foram encontrados e os seus perigos são: causa de incêndios, ingestão por animais, armadilhas de “morte” para animais, falsas sinalizações para embarcações do mar, entre outras. Em seguida alguns exemplos.
1.Lanternas como causa de incêndio – Colorado – Março 2016
2. Casa incendiada em Wiltshire – Reino Unido – Julho de 2011
3. Restos de uma lanterna causam a morte de uma vaca – Dezembro de 2009
Mas este não foi um caso isolado, outras 3 vacas morreram no Reino Unido– Setembro de 2011.
4. Coruja encontrada morta e presa a uma lanterna chinesa – Outubro 2014
Esta estrutura é de arame, mas se fosse de bambú teria feito a diferença para esta coruja? Não!
5. Um menino de 3 anos queimado pelo liquido de uma lanterna chinesa – Novembro de 2010
A Mãe leva a público o sucedido, alertando para o uso destas lanternas. Hoje no código que regula o lançamento das lanternas, crianças não devem estar perto do momento de as lançar.
6. 9 Bombeiros feridos num fogo causado por lanternas – Julho de 2013
O incidente levou a outras medidas, em que o chefe dos Bombeiros Pede para deixarem de usar lanternas chinesas no Reino Unido.
7. Aeroporto no Alaska teve que alterar as rotas dos aviões
8. Uma familia tem um acidente de carro para se desviar de uma lanterna que estava no caminho
Existem mais, mas penso que já serão suficientes para todos chegarmos à conclusão: Sim, são uma ameaça para o ambiente.
Algumas medidas de referência:
Em Malta lanternas do céu proibidas
Balões e lanternas no céu deviam ser proíbidos
Lanternas “Biodegradáveis” são amigas do ambiente?
Ora bem, aqui mais uma questão muito questionável. Se forem biodegradáveis, ou seja feitas de papel e bambú, teriam evitado alguns dos acidentes anteriores? Muito provavelmente, não!
Estamos de facto a assistir a uma nova “moda” no mundo: substituir os materiais de certos produtos, para ter um rótulo “verde”, mas apenas para continuarmos a servir os meus padrões de consumo. Mas é importante percebermos que essa não é, nem nunca será a solução. A raiz do problema não são os tipos de material, são os produtos em si.
Exemplo: Olha queres ser mesmo amigo do ambiente? Faz as tuas festas com estas colheres descartáveis de madeira e estes pratos descartáveis de folhas de árvores. Ah, já agora lança estas lanternas de papel e bambú. Depois de usares, podes atirar livremente para o ambiente, são biodegradáveis, não te preocupes! Florestas nativas foram destruídas para plantar só árvores para colheres, pratos e lanternas do céu!
O que aqui não faz sentido?
Continuamos a servir a sociedade do Descartável que tornou a Natureza Descartável, e pior sacrificando preciosos e mágicos recursos naturais como as árvores para nos satisfazer. Quem são as árvores minha gente? Só existem para nos dar papel e madeira? Elas sim são verdadeiramente mágicas!
O próprio Buddha tinha uma grande ligação às árvores, e uma foi especial para ele. Foi meditando debaixo de uma Ficus Religiosa que ele alcançou a “iluminação”, sendo hoje uma árvore sagrada conhecida por Árvore de Bodhi. Mas aí é que está, todas as Árvores são sagradas e preciosas demais para servirem ao descartável e produtos sem sentido, ou será que não?
E por tudo isto, não, não faz sentido dizer que Lanternas de Papel e Bambú são amigas do ambiente, porque não o são!
As verdadeiras alternativas amigas do ambiente
A melhor de todas: Plante vida, uma Árvore, flores para celebrar, homenagear, oferecer e dar a vida, e na verdade quem vos irá agradecer é o próprio planeta.
Se a luz tem um significado para si, porque de facto tem, acenda uma vela com a intenção que pretende.
Se quer mesmo usar uma lanterna, dê asas à criatividade e transforme-a numa lanterna reutilizável e estática. Os seus desejos, homenagens e celebrações não precisam ser lançados ao céu, nem se tornar num lixo e problema para o planeta e para outros seres vivos.
Basta de sermos egoístas na forma como nos relacionamos com a nossa Casa!
Mais ideias e alternativas sustentáveis e amigas do ambiente
O que cada um de nós pode fazer:
- Se lanternas já foram lançadas, recolham-nas do ambiente, embora saibamos que será impossível apanhar a todas, principalmente as que caiem no mar;
- Partilhem com os outros para que todos possamos ter conhecimento dos perigos das lanternas;
- Contatem a organização de eventos que usam ou pretendem usar estas lanternas, sugerindo que optem por outras alternativas.
Não sabemos tudo, nem nunca o poderemos saber, mas juntos e partilhando com os outros poderemos melhorar o nosso mundo. Basta um para começar uma “revolução”, basta um gesto para fazer acontecer a “mudança que queremos ver no mundo!
Partilhem com a intenção positiva de construir um mundo melhor, não pelo julgamento, mas pela colaboração e cooperação com os outros! Os erros dos outros podem ser diferentes dos nossos, mas todos nós erramos, não é mesmo?
Obrigada a todos os que tiraram um pouco do seu tempo para receber a partilha desta nossa aventura.
Para saber mais:
Aplicação com todos os artigos consultados: